Os Simpsons ironizam a Bíblia, Jesus e os cristãos
Como crítica à sociedade americana, a série ”Os Simpsons” é o que há de melhor. Ridiculariza o que é ridículo e satiriza o que é satírico. O filme segue a exata mesma linha: é igualzinho à TV. Com três diferenças: Bart aparece em nu frontal, Bart fica bêbado e Marge solta um palavrão ofensivo a Deus. De resto, é igual. Há um ponto, porém, em que a história pisa forte no calo dos cristãos: ridiculariza e satiriza nossa fé. Podemos ser caricaturais para os produtores, mas que a forma desrespeitosa como isso é abordado incomoda, incomoda. Haveria muito o que dizer aqui sobre como algumas situações do longa-metragem são engraçadas (e são mesmo!) ou sobre como há insinuações sexuais na história, mas vou focalizar apenas em como o cristianismo é apresentado e visto no filme.
Homer provoca um acidente nuclear e a cidade de Springfield se vê à beira da destruição. Sua família foge da cidade mas tem de encarar o dilema entre voltar e ajudar seus vizinhos ou permanecer em segurança. Aí começam os pisões nos calos: Homer vai a um funeral e reclama que os cristãos ”são ocupados demais, falando com seu Deus de mentirinha”. Ai!
E também diz que as pessoas na igreja são hipócritas idiotas. Ai! Ai!
Em certo ponto, Homer protesta: ”Por que não posso adorar Deus ao meu modo, tipo orando pra diabo (no original, ”praying like hell”) em meu leito de morte?”. Ai! Ai! Ai!
Na igreja, o vovô Simpson é atingido por um raio do Céu, tem uma visão e cai no chão, estrebuchando. Ele ”profetiza” que a cidade vai enfrentar uma grande calamidade. Os crentes pedem que Homer resolva a situação. Ele pega uma Bíblia, dá uma folheada e a descarta, dizendo: ”Este livro não tem nenhuma resposta”. Ai! Ai! Ai! Ai!
Ele e sua família chegam atrasados a um culto e Homer entra na Igreja falando sobre ”Jebus”, em vez de ”Jesus”. Ai! Ai! Ai! Ai! Ai! Ai!
Diante disso alguém poderia alegar que não passa de um filme inofensivo, sem o menor poder de influenciar pessoas. Bem, não é isso o que dizem as pesquisas. O seriado ”Os Simpsons” está no ar há 18 anos, um total de 400 episódios. Já ganhou 23 Emmys (o Oscar da TV estado-unidense) e gerou lucros da ordem de 1 bilhão de dólares. Sua influência vai além: um estudo do Museu McCormick Tribune Freedom, realizado em janeiro de 2006, mostrou que 22% da população dos Estados Unidos eram capazes de dizer o nome dos cinco integrantes da família Simpson, mas apenas um em cada mil indivíduos sabia dizer os cinco tópicos da Primeira Emenda da Constituição do país. Além disso, a interjeição ”D’oh!”, que Homer pronuncia a cada episódio, foi incluída no Dicionário Inglês de Oxford, o que significa que agora a palavra faz parte oficialmente da língua inglesa. Alguém ainda acha que desenhos animados não afetam a mentalidade das pessoas?
Maurício Zágari Tupinambá