Sempre que se procura mostrar as falhas da Igreja Católica, inevitavelmente vem à tona o tema da Inquisição. Em resumo, o Tribunal do Santo Ofício (seu nome oficial) era uma corte eclesiástica destinada a defender a fé papista que vigiava, perseguia, torturava, prendia, condenava e, na maioria dos casos, matava aqueles que eram suspeitos de heresias ou de praticar outras religiões. Para os cristãos, o estudo desse período negro da História serve para fazer uma profunda reflexão a respeito de uma série de elementos referentes ao papel da Igreja e sua relação com outras crenças e fés. Nesse sentido, Sombras de Goya é uma interessante lição sobre esse capítulo tenebroso de nosso passado.
O longa-metragem se desenrola desde o reinado de Carlos IV até a ocupação da França por Bonaparte, terminando com sua derrota pelos britânicos. Em meio ao tumulto da época, a espanhola interpretada por Natalie Portman é presa pela Inquisição por ter recusado um prato de carne de porco em um restaurante (para seus acusadores, um sinal claro de que ela era judia). Na prisão, ela é barbaramente torturada e estuprada por um padre, Lorenzo, interpretado por Javier Bardém. Em torno desse fato, uma série de situações se desenrolam.
Apesar de conter diversos erros históricos (como o fato de, em 1772, sacerdotes católicos condenarem obras feitas por pelo famoso pintor espanhol Francisco de Goya. Na vida real, elas só foram pintadas em 1799), o filme é capaz de mostrar para as pessoas menos familiarizados com os dramas da época como funcionava o Tribunal do Santo Ofício e suas conseqüências nefastas para aquela sociedade.
As interpretações dos atores são profundas e tocantes, numa narrativa bem amarrada. Embora tenha recebido críticas negativas, especialmente nos Estados Unidos, por ter um roteiro intrincado, o resultado final de Sombras de Goya é bastante interessante. Ao traçar paralelos entre a Inquisição espanhola, a ascensão e queda de Napoleão e a vida do pintor Goya, o longa-metragem dificulta a fluência das tramas para pessoas acostumadas com filmes fáceis. Em certos momentos, a produção apela para o intelectualismo barato, é verdade, mas não perde sua concisão ou seu caráter de entretenimento.
Tecnicamente, o filme de Milos Forman (o mesmo de Amadeus) é impecável. Os figurinos de época, os cenários, a fotografia e até mesmo os efeitos sonoros conduzem o espectador para a época de Goya com notável competência. Não é um dos roteiros mais completos já feitos sobre a Inquisição, mas certamente vem para somar a produções como Lutero e O Nome da Rosa.
Para o público que tem interesse em História da Igreja e que aprecia um belo espetáculo cinematográfico, Sombras de Goya não deixa nada a desejar.
Maurício Zágari Tupinambá
Equipe CINEGOSPEL
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