Eu sou de cêra. Você é feito de quê? * Artigo

25 03 2008

Uma noite no museu 1 Eu sou de cêra. Você é feito de quê?

O legalismo tem como sombra, e apenas isso, a ilusória aparência do desejo ardente pela santidade e semelhança com Cristo, mas a sua essência é o engodo maligno que atordoa e leva escuridão aos olhos do coração. Nessas densas trevas, onde se tateiam os umbrais do inferno dizendo que são os alicerces do Reino do Eterno, homens despersonificam Cristo, ignoMatrixrando Sua Graça e reduzindo-O em seus corações a um Divã Acusador, que nunca oferece cura, pois ele busca o merecimento. Não oferece Graça, porque ele não encontra alguém que possa pagar o seu preço. Quem se agasalha do legalismo não conhece a si mesmo, pois desconsidera a sua própria essência. E por desconsiderá-la, não a percebe. Por não percebê-la, é manipulada por ela como marionete, vivendo nessa prisional realidade como na trilogia “Matrix”, onde tudo acontecia, não por resultado da liberdade humana, mas por uma programação estabelecida.

Talvez um dos exercícios que mais nos custe seja o da descoberta de quem somos. Vira e mexe nos encontramos fugindo dessa busca da verdadeira face do “eu”. A prova do que estou falando está nos consultórios de terapeutas e em gabinetes pastorais. Nesses lugares vemos pessoas fugindo desse encontro com a sua alma, pois o que ouvem do lado de fora assusta bastante. Então, preferem brincar de pique-esconde consigo mesmas.

uma-noite-no-museu-2.jpgNo filme “Uma Noite no Museu”, Ben Stiller vive o personagem Larry Daley, que não consegue estabilidade pessoal e profissional. Resolvido a dar uma guinada na sua vida e parar de decepcionar seu filho, ele assume o cargo de guarda noturno no Museu de História Natural, em Nova York. A confusão começa quando um esqueleto de dinossauro, animais e estátuas de cêra ganham vida à noite por causa de uma maldição egípcia. Larry então, numa conversa com Theodore Roosevelt, interpretado por Robin Williams, decide abandonar o emprego. E, nesse diálogo, Roosevelt diz: “Eu sou de cêra. Você é feito de quê?” Aquela conversa acaba mudando a postura de Larry, que buscou estudar o universo que o cercava para assumir a função de “guardião” do museu.

Uma noite no museu 3O “Eu sou de cêra. Você é feito de quê?” é bastante pertinente, pois nos faz questionar a nossa essência. A afirmação e indagação do personagem Theodore Roosevelt deve nos chamar a atenção para duas coisas: a primeira é o conhecimento da nossa limitação sem que haja a visitação do avassalador sentimento de inferioridade. Ele assume quem é sem que isso o achate; o reduza a impotente e insignificante na sua existência. A segunda questiona a essência, mas também fala de um valor existente, porém não percebido. Na verdade, Roosevelt via em Larry algo que o próprio Larry não via. Se havia alguém que poderia colocar ordem naquele caos seria o Larry, pois ele não estava limitado na sua essência, pois não era de cêra, e nem no tempo – a noite e o dia não eram obstáculos na sua existência.

Na Bíblia encontramos uma história que retrata o dilema de SER. Mateus 26: 69-74 relata o medo de Pedro em assumir sua identidade, o medo de dizer que era seguidor de Cristo. O “estar” não incomodou tanto, mas o “ser” o descompensou.

Uma noite no museu 4Enquanto que Larry é aquele que está mergulhado numa crise existencial, necessitando de um provocador, Pedro é o que sabe quem ele mesmo É, mas que foge da responsabilidade de SER. Nessas duas figuras, o que necessita ser provocado e o que foge da responsabilidade de SER, encontramos a nossa cruz; a nossa vergonha. Também precisamos de um provocador e às vezes fugimos do ônus da Cruz.

Em Pedro temos o tiro à queima-roupa: “Tu me amas? Então apascenta as minhas ovelhas”. E na indagação “se ele era o seguidor Cristo” estava também o imperativo do “então seja pastor”. No final, Pedro, na sua miserabilidade, encontrou-se com a Graça e consigo mesmo. E esses encontros, que para ele foram demasiadamente constrangedores, para o Senhor da Glória foram emocionantes, pois um servo Seu aceitou os “óculos espirituais” e passou a enxergar a si mesmo. Nos encontros, surgiu o filho da Graça e morreu o da Lei.

Com Larry aprendemos a lição de ceder os ouvidos à voz provocativa do nosso “Roosevelt interior”, na esperança de que nessa provocação possamos acordar e agir como homens de carne… não de cêra. Homens espirituais.

Em Cristo Jesus,

Pr. Evandro Rocha - Igreja Pentecostal de Nova Vida em Copacabana (RJ)
Pastor Evandro Rocha
Igreja Pentecostal de Nova Vida em Copacabana (RJ)